segunda-feira, 13 de abril de 2009

Olha a falsidade aí, geeeeente!



Foto da Globo.Com

Que mania mais feia valorizar as pessoas só depois da morte. Os artistas são os que mais sofrem com isso (se é que existe sofrimento depois da morte). Será possível enumerar os devidamente reconhecidos e homenageados ainda em vida? Talvez Tom Jobim, Elis, Roberto Carlos... acho que só... Se lembram de mais alguém? Se lembrarem, coloquem nos comentários, por favor...

Quem aí, nunca viu uma reportagem do Jornal Nacional, ou do Jornal Hoje falando sobre a morte de algum ator ou atriz que já estava bem velhinho, sobre o qual você NUNCA havia ouvido falar antes? E mais! Nessas reportagens, você descobre que embora a Globo elogie esse artista como “um dos melhores”, há muito tempo ela não dava sequer uma oportunidade para o recém-falecido. O texto do “off” diz algo do tipo: “...o seu último trabalho na TV Globo, foi na novela ‘Trocando as bolas’ de 1972”.

Pois bem. E por que raios eu to falando disso? É que fiquei espantado nas proximidades do carnaval deste ano, quando me deparei, não apenas na Globo (mas essencialmente lá), com incontáveis aparições e homenagens para o Neguinho da Beija-Flor. Estavam finalmente homenageando alguém vivo! Mas, de qualquer forma, me pareceu uma homenagem oportunista. Para quem não sabe, o sambista teve diagnosticado um câncer no intestino que o afastou de alguns shows e apresentações.

Luís Antônio Feliciano Marcondes, o Neguinho, começou sua carreira bem criança, assim como quase todos os cantores. Ele foi cantar um samba-enredo do Jamelão e acabou encantando os organizadores de um concurso. Faz mais de 30 anos que é o “puxador” (acho tão feio esse nome) da escola de samba de Nilópolis, numa identificação tão grande que acabou estampada no seu apelido. Em outras épocas, que não o carnaval, Neguinho se dedica a uma carreira de sucesso como cantor solo, e também como compositor. Claro, sempre no samba. Destaco uma música muitíssimo bem interpretada por ele: “Ângela”. Para quem não viu, vale a pena dar uma pesquisada no iul-tubil para procurar o vídeo do último especial do Roberto Carlos, no qual os dois dividem os vocais dessa canção e de “Eu e Ela”. Outro marco do Neguinho é aquele carioquíssimo refrão cantado no estádio: “Domingo eu vou pro Maracanã. Vou torcer pro time que sou fã”. E é claro, o “Olha a Beija-Flor aí, geeeente!”. Além disso tudo, Neguinho também tem uma extensa carreira internacional muito bem sucedida.

Embora tenha feito “tuuuudo” isso que falei aí em cima, o cara, para mim, não passa de um bom cantor. Só que o problema de saúde do Neguinho da Beija-Flor parece ter elevado seu nome aos altares da genialidade da música popular brasileira, como um ícone indispensável e insubstituível, divisor de águas de notória contribuição cultural para todo o país. Ora, embora ele tenha sua importância, também não são esses quinhentos. Convenhamos... Quem aí consegue cantar uma música do Neguinho da Beija-Flor assim de bate-pronto?

Perto do carnaval, teve transmissão do casamento dele, com direito a presidente da república e tudo. Fotos em todos os sites. “Homenagem ao Artista” no Raul Gil. Mas, o cúmulo foi no “Bom Dia Brasil”, acho que da sexta-feira que antecedia o carnaval. Como bom operário diário do jornalismo, ao tomar o café, assisto o “Bom Dia” para sair achando que estou mais bem informado para o trabalho. Nesse dia, foram quase dois blocos inteiros do jornal, dedicados a contar a vida do Neguinho da Beija-Flor, falar sobre o tratamento médico, seguido de uma entrevista que culminava com ele assistindo um vídeo de pessoas mandando “energia positiva”, e no final um monte de desconhecidos cantando e abraçando, enquanto o cantor chorava. Vários, claramente tentando chegar perto do cara só para aparecer na gRobo. Jamais vi um mísero show do Neguinho na Globo, nem participação no programa da Ivete. Agora, a distinta emissora parecia amar o cantor como a um deus. Acredito mais em um oportunismo pela ocasião do carnaval. Afinal de contas, hoje, mês de abril, ninguém mais ouve falar no (de novo) esquecido Neguinho da Beija-Flor.

Quero deixar claro o seguinte, não tenho nada contra ele. Realmente samba-enredo não é o tipo de música que ouço no carro, mas minha indignação é com o uso da imagem de alguém que está se recuperando de uma doença grave, para promover sua transmissão do carnaval. Neguinho, boa sorte, saúde, melhoras e, principalmente, cuidado com quem costuma te chamar de amigo. Olha a falsidade aí, geeeeente!


Neguinho da Beija-Flor e Roberto Carlos - Ângela


Homenagem a Neguinho da Beija-Flor no Bom Dia Brasil

2 comentários:

Unknown disse...

OI querido!
Eu sou beija flor desde criancinha e prá mim, uma das qualidades dele é q nunca se deixou vender por um passe maior em outra escola de samba.
Lembro de uma entrevista que ele deu, falando assim: ...Imaginem vcs, eu come esse nome, Neguinho da Beija-Flor, puxando samba na Estácio?Achei muito sensato!
Saudade.

Maria Eduarda Selva disse...

Hahahha sério tais muito certo. É bem assim, basta um artista morrer para a Globo falar como ele era bom, as pessoas ficam emocionadas e começam a ouvir a música dele. Que tal fazer isso enquanto as pessoas estão vivas e podem apreciar isso?

Vi o teu blog em uma comunidade do orkut e resolvi dar uma olhada. É que eu estou super envolvida no Movimento Blog Voluntário, que é uma ação para combater com o analfabetismo digital. É super interessante e acho que o teu blog pode sim participar.
www.blogvoluntário.org.br

Nos vemos.