segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

E lá se vai mais um...

Tietando Charles Gavin, no lançamento do filme dos Titãs


Há praticamente uma semana, dois acontecimentos quase simultâneos permearam meus pensamentos. A primeira delas (e para mim, mais importante) foi que pela primeira vez minha filha balbuciou de forma mais clara a palavra “papai”. Momento emocionante, principalmente quando se trata de sua primeira filha. Antes, para se referir a mim, ela falava algo como “papapapa” seguindo de sons de beijinhos, afinal de contas, eu sempre encho ela de beijos.

O outro acontecimento, este sim ligado ao assunto deste blog, foi o desligamento dos Titãs do baterista Charles Gavin. Como meus leitores devem saber, sou admirador confesso desta que considero a melhor banda de rock do Brasil. E por causa disso, essa notícia naturalmente me causou certa chateação e desapontamento. Até porque, nos últimos tempos, com esta já são 4 baixas na banda: Arnaldo Antunes (saiu em 1992), Marcelo Frommer (morreu em 2001), Nando Reis (saiu em 2002) e agora Charles Gavin.

Em uma carta dirigida aos fãs, Charles justificou sua saída da banda, associando-a a um esgotamento físico e mental da “loucura” da estrada e dos shows, causado talvez pela sua idade, quase 50 anos. Nos bastidores, circulam rumores de que um dos motivos determinantes para sua decisão de largar a banda, é não ter acompanhado o crescimento de suas filhas, devido à rotina constante de apresentações e viagens com os Titãs.

Alguns fatos mostram que Charles Gavin era admirador de Charlie Watts (baterista dos Rolling Stones, em atividade aos 69 anos), e de todos os Titãs, foi o que menos se desgastou com uso excessivo de drogas ou bebidas (sim, ele é quase “careta”). Portanto, idade não parece ser o motivo mais justo (e verdadeiro) de sua saída. Talvez o interesse em outros trabalhos, como suas garimpagens e remasterizações de clássicos da MPB, seja uma justificativa mais plausível. Desentendimentos artísticos e/ou administrativos com os Titãs? Talvez também.

No entanto, permito-me firmar a outra hipótese. O anúncio oficial de seu afastamento da banda se deu em 12 de fevereiro. Eu, já tinha informações extra-oficiais sobre isso desde o dia 8, quando também soube dos possíveis motivos paternais de Charles Gavin. Mas até o anúncio da banda, eu achava tudo exagero. Não encontrava justificativa que inocentasse o compositor da minha música preferida (“Estado Violência” – Cabeça Dinossauro – 1986) da minha banda preferida em colocar o futuro dela em risco, por “problemas pessoais”. Mas ao chegar em casa, exatamente naquele mesmo dia, e pela primeira vez ouvir a minha princesinha me chamar, entendi o que talvez seja mesmo o maior motivo da saída do baterista. É certo que os outros Titãs também são pais. Sérgio Britto, por exemplo, tem uma filha bem novinha. Mas talvez eles tenham conseguido conciliar melhor as funções de pais e astros de rock. Enquanto que o baterista, aparentemente, não. Uma famosa frase já diria: “cada um é cada um...”.

Saber que os Titãs continuarão, e com um outro excelente baterista, conforta um pouco a sensação de que sua banda está sendo dilacerada. Da mesma forma, penso que os 4 que hoje continuam, formam a espinha dorsal da banda. Sinceramente, não trocaria nenhum dos 4 atuais membros, por algum dos outros 4 que já não tocam na banda. Portanto, aqueles que ficaram, representam a alma dos Titãs, e é exatamente isso que possibilita a sua continuidade. Sem contar que os Titãs sempre adoraram se reinventar. É uma banda cheia de fases. E a partir de agora, será apenas mais uma fase dos mesmos Titãs. Ufa! Felizmente não foi agora que acabou.

Ao Charles Gavin, mesmo lamentando sua saída, fica o meu muito obrigado por giros, levadas e porradas proporcionadas nesse tempo todo de rock’n roll. Embora eu tenha ficado decepcionado, devo admitir, Charles, quando se ouve “papai”, qualquer um se desmancha. Valeu, MOTOR DA BANDA!